RIO — Em meio à falência do estado e diante da incerteza gerada pela operação Lava-Jato, repercutiu mal no meio político fluminense a divulgação por parte do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no embalo de sua reeleição para o cargo no início do mês, da pretensão de disputar o governo do Rio no ano que vem.
A declaração causou especial insatisfação nos aliados do PMDB, que a consideraram “catastrófica” e precipitada. Como o deputado ressaltou que não disputará com o ex-prefeito Eduardo Paes, que foi morar nos Estados Unidos, e frisou que os dois estarão no mesmo campo político, peemedebistas reclamaram que Maia passou a impressão de estar rifando o ex-prefeito. Paes já anunciou que pretende concorrer ao governo.
“Tem toda legitimidade, mas primeiro é preciso o Brasil voltar a crescer e o estado do Rio sair dessa condição falimentar. Respeito todas as opiniões, mas só se deve pensar em eleição no meio do ano que vem”, disse o presidente do PMDB fluminense e presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani.
Em entrevista ao GLOBO, Maia disse que, se for um bom presidente da Câmara, estará credenciado para disputar o governo do Rio e “eleições majoritárias como um todo”. Em 2018, duas vagas de senador serão renovadas.
LAVA-JATO FAZ ESTRAGO EM POPULARIDADE
Uma das dificuldades eleitorais do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, é a citação de seu nome em delações da operação Lava-Jato, embora negue de maneira enfática envolvimento em qualquer tipo de irregularidade.
“Primeiro, ele tem que resolver as pendências judiciais”, disse o presidente do PDT, Carlos Lupi, que, assim como Maia, apoiou nas últimas eleições municipais o candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Pedro Paulo.
Antes mesmo de manifestar o desejo de alçar voos mais altos na política, Maia já tinha sido apontado como o “Botafogo” que aparece em planilha da Odebrecht de pagamento de propina. Cláudio Melo Filho, ex-diretor da empreiteira disse, em delação premiada, que Maia recebeu R$ 100 mil para ajudar na tramitação de Medida Provisória de interesse da empresa.
Após a entrevista ao GLOBO, na qual o presidente da Câmara manifestou o desejo de disputar o governo do Rio, inquérito da Polícia Federal apontou o deputado como beneficiário de suposta propina da OAS. Ele nega as acusações.
LÍDERES DO PMDB EM APUROS
Essa não é a única dificuldade eleitoral do presidente da Câmara. No dia 4 de dezembro do ano passado, Maia foi um dos principais alvos de milhares de manifestantes que se reuniram em Copacabana para protestar contra a desfiguração, pelos deputados, em sessão conduzida por ele, do pacote de dez medidas contra a corrupção. O coro “Rodrigo Maia, pode esperar, sua hora vai chegar” foi entoado várias vezes.
A única eleição majoritária disputada por Maia foi a de 2012, quando disputou a prefeitura do Rio e ficou em terceiro lugar, com 2,9% dos votos.
O cenário é incerto para as eleições. Diante do desgaste do partido, peemedebistas dizem que deve haver uma debandada no Rio. A situação já era considerada difícil com a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, e agora integrantes do PMDB fluminense dizem que está ficando “insustentável” com a expectativa de que as investigações atinjam outras lideranças. Jonas Lopes, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado, e seu filho, Jonas Neto, estão em processo de delação, segundo o colunista Lauro Jardim, e teriam citado o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani.