Principal alvo da Operação Lava Jato dentro do núcleo empresarial, que desviou mais de R$ 10 bilhões da Petrobrás para pagar propinas a políticos corrompidos, Marcelo Bahia Odebrecht afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que “a Lava Jato foi muito positiva”.
Com três de investigações ostensivas, o escândalo “vai corrigir daqui para frente” o problema do caixa 2 e da corrupção, que acompanha a relação entre as empresas e os políticos e suas campanhas eleitorais, segundo o empresário.
“Essa questão da Lava Jato foi muito positiva, porque eu acho que vai corrigir daqui para frente”, afirmou Odebrecht, no dia 1º de março, ao ministro Herman Benjamin, do processo de cassação da chapa presidencial Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB), de 2014. Na próxima terça-feira, 4, o TSE inicia o julgamento.
Testemunha de acusação contra a chapa Dilma/Temer, o empresário disse que há uma confusão entre caixa 2 e propina.
Preso há um ano e nove meses – alvo da 14ª fase da Lava Jato, Erga Omnes (do latim vale para todos) -, Odebrecht fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR), homologado em 30 de janeiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O acordo garantiu que ele deixe a cadeia no final deste ano, quando completar 3 anos de reclusão.
Segundo Odebrecht, o País vive um momento de “’varredura ética”.
“O Brasil vai precisar encarar isso, até para, nesse processo de varredura que eles está fazendo, de limpeza ética, também não misturar o joio com o trigo”, disse o delator, ouvido em Curitiba, onde está preso – seu depoimento ainda é mantido sob sigilo.
“Eu acho que vai precisar verificar claramente o que foi… é… contribuição eleitoral, fruto de uma agenda ampla, mas sem uma contrapartida específica, eu acho que isso tem uma certa dimensão, é quase que um lobby, digamos assim, isso e aquilo que foi efetivamente propina fruto de uma acerto, de uma contrapartida específica onde eu acho que tem uma gravidade muito maior que não se justifica.”
Segundo Odebrecht, no Brasil “é difícil qualquer empresário sobreviver sem apoiar aqueles políticos que apoiavam, de maneira genérica, o seu setor’.
Caixa 2. “Eu acho que o grande erro nosso foi botar tudo dentro do caixa 2 e aí tirar a clareza do que estava acontecendo, mas também essa clareza deixou de existir, porque a gente tinha dedo de doar com medo de penalização que havia do caixa 1.”
O empresário afirmou ao TSE que, entre 2008 e 2014, repassou R$ 300 milhões ao PT, valor que inclui propinas e caixa 2 (na sua avaliação, quando o dinheiro não é declarado, mas não há contrapartida clara de negócio com o governo). Na campanha de 2014, de Dilma, foram R$ 150 milhões negociados, segundo ele, com os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda).
“Essa questão não é só do Brasil, é do mundo inteiro. A partir do momento que tem contribuição eleitoral, ela existe. A questão que eu acho que no Brasil a gente perdeu o controle das coisas foi na dimensão do caixa 2. É uma história de 20, 30 anos de Brasil que veio crescendo, crescendo, entendeu? E que precisava parar! Eu acho que precisava parar!”
Culpa da sociedade. Condenado a 20 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Lava Jato, em apenas uma das quatro ações penais já abertas contra ele pelo juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, Odebercht disse achar que “toda sociedade errou”.
“Eu não estou dizendo, quando eu digo toda a sociedade, eu não estou tirando, diminuindo o meu erro não, eu acho que errei, fiz vista grossa, eu cresci assim, o setor empresarial era assim, o fato de outras empresas não justifica eu ter feito”, afirmou Odebrecht, ao ministro Herman Benjamin.
“Eu quero dizer que, olhando para frente, precisa mudar muita coisa, entendeu?.”
Enfrentar. “O Brasil vai ter que enfrentar isso.”
Odebrecht defendeu a legalização do lobby e a necessidade de se separar o que é propina do que é caixa 2 empresarial, que seria o dinheiro não contabilizado, mas não relacionado a negócios públicos.
No entanto, admitiu que o caixa 2 é um “ilícito” e que ele desiguala o processo eleitoral.
“Eu reconheço que, quando você vai para o caixa 2, mesmo que o caixa 2 não tinha origem em propina ele carrega uma ilicitude, ele desiguala o processo eleitoral e, ademais, é a questão do contrabando, quer dizer, na hora que a gente está aceitando filme contrabandeado, nós estamos dando dinheiro para um setor.”
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