O desembargador Cláudio Santos, ex-presidente do Tribunal de Justiça, sugeriu nesta quarta-feira 15 que o Estado promova um “enxugamento da máquina administrativa” para que mais recursos possam ser alocados para áreas essenciais como a segurança pública.
De acordo com o magistrado, essa é a alternativa para contornar a onda de violência no Rio Grande do Norte que já provocou mais de 500 assassinatos apenas no ano de 2017. O dado, segundo ele, demonstra que “o Governo perdeu o controle” da situação.
“Nós vivemos uma onda de violência. A quantidade de policiais mortos mostra a verdadeira guerra civil em que vivemos. Hoje ninguém está isento de ser assaltado ou morto a qualquer hora”, resumiu.
Santos defende a aplicação de ações emergenciais na área de segurança, mas propõe inicialmente uma revisão no que é gasto pelo Poder Público. “Temos de diminuir o tamanho da estrutura da máquina pública, e não aumentá-la. Assim, sobrarão mais recursos para a saúde, a educação e a segurança”, afirma, sem especificar por onde a drenagem deveria iniciar.
A declaração do desembargador acontece no mesmo dia em que o Observatório da Violência Letal Intencional (OBVIO) divulgou um relatório que mostra que os três primeiros meses deste ano são os mais violentos da história do estado. De janeiro a março, até agora, foram 503 homicídios. O documento divulgado traz outros dados estatísticos, como o fato de que 84% dos assassinatos é provocado por disparos de arma de fogo.
Santos comparou a situação registrada no Rio Grande do Norte com o cenário de violência nos estados vizinhos. “Estados como a Paraíba, Pernambuco e Ceará enfrentam problemas. Mas nenhum deles é tão grave como o do Rio Grande do Norte”, registrou o magistrado.
NOVOS PRESÍDIOS
Outro ponto criticado pelo desembargador no que diz respeito à política de segurança e administração do sistema penitenciário por parte do Governo foi o anúncio da construção de dois novos presídios, com capacidade para 603 detentos cada, em Afonso Bezerra.
Segundo o ex-presidente do TJ, a instalação de uma unidade prisional no município da Região Central que fica distante cerca de 170 Km de Natal não irá atender à Lei de Execuções Penais. “Diante disso, por se tratarem de recursos federais, acredito que o Ministério Público Federal deverá intervir junto a essas obras para atender o princípio da eficiência administrativa”, ressaltou.
A região de Afonso Bezerra não apresenta condições mínimas de segurança que possibilitem a atividade plena dos presídios, segundo o desembargador, que também não acredita na capacidade de ressocialização dos detentos desses equipamentos que o Governo pretende construir.
Além disso, Santos chamou a atenção para o fato de que a maioria da população carcerária do Rio Grande do Norte é proveniente da Região Metropolitana de Natal. Pela questão geográfica, o desembargador também questionou a escolha de Afonso Bezerra. “Os presos precisarão de visitas de parentes e advogados. E o presídio tem uma interação com a comunidade”, assinala o desembargador, prevendo problemas de logística com a condução de detentos para julgamentos e audiências e fornecimento de mantimentos para as unidades.
“Os presos devem ficar onde são produzidos. Se maioria é presa na Região Metropolitana, é lá que eles têm de ser mantidos presos. A melhor alternativa seria escolher um local na Grande Natal”, concluiu.
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